
O livro Morte Feliz de Albert Camus tem apenas 128 páginas, não se lê num par de horas e é um grande livro.
Gostei muito.
Nas leituras acontece-me muitas vezes (quase sempre) gostar mais da forma do que da história. Raramente consigo ler uma boa história pobremente escrita e devoro a história mais simples quando a escrita é fantástica.
Da contracapa:
(...) Esta é a história de Patrice Mersault, um operário franco-argelino, cujos passos acompanhamos até à casa da sua vitima e daí, em fuga, pelo exílio que impôs a si mesmo. O mar, o sol, as mulheres, a busca pela felicidade e a aceitação da morte constituem linhas-mestras neste texto que é um estudo sobre a luta do ser contra os grilhões da sua existência, mas também uma espantosa janela sobre a imaginação de um jovem autor, que se viria a revelar um dos maiores da literatura mundial do século XX.
A Morte Feliz tem uma narrativa densa, em certas alturas carregada, quase penosa, e noutras vividamente descritiva, onde todas as palavras em cada frase contam. Em contrapartida quase não tem diálogos (apenas um, na verdade) e a história é sempre contada na terceira pessoa.
Um dos pontos altos do livro, uma vez que rapidamente se percebe para onde a história inevitavelmente caminha, é o longo diálogo entre Mersault e a vítima, que nos transporta para aquele sala, como ouvintes invisíveis.
Ao contrário de um thriller, onde, como leitores, devoramos as páginas para chegarmos depressa ao fim e descobrimos o que aconteceu, aqui sabemos, ou antes, cedo adivinhamos o fim mas continuamos compulsivamente a ler porque o fim torna-se uma necessidade.
Que escrita excelente.